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Foto do escritorFamília na Trilha

Travessia da Serra do Tabuleiro

Mapa do Parque do Tabuleiro com os municípios que o integram.
Imagem extraída do plano de manejo do parque

A travessia da Serra do Tabuleiro, pega a porção noroeste do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, na Grande Florianópolis, iniciando em São Bonifácio e atravessando grandes trechos por Santo Amaro da Imperatriz. A Serra do Tabuleiro é uma das 5 serras presentes no parque, maior unidade de conservação de proteção integral do Estado de Santa Catarina, ocupando cerca de 1% do território do estado e 9 municípios. O Morro que dá nome à serra e ao parque está localizado no município de Santo Amaro da Imperatriz e seu formato parece um grande tabuleiro. Pode ser visto de vários pontos da Grande Florianópolis.

Morro do Tabuleiro com a região metropolitana da Grande Florianópolis ao fundo.

Além da Serra do Tabuleiro, o parque tem as serras do Cambirela, Capivari, dos Morretes e Santa Albertina. Porém, nem só de serras é composto o parque, há também ilhas, manguezais, praias e áreas de restinga. São 5 dos 6 ecossistemas presentes em Santa Catarina.


Preparativos:

Itens que foram para a mochila da Travessia da Serra do Tabuleiro

Como essa foi nossa primeira jornada de três dias distante da cidade e de qualquer meio de comprar alguma coisa, dormindo em barraca em regiões de campos de altitude, nos atentamos muito aos preparativos pois sabíamos que não poderíamos esquecer de nada.

Casal encasacado, pronto para iniciar a travessia da Serra do Tabuleiro.

Roupas: Considerando que estaríamos em cima da serra no final de maio e que tomar banho era algo improvável, nos programamos para o frio e para a necessidade de troca de roupas. Cada um levou três meias para a caminhada e uma para as noites, três roupas íntimas e três camisetas térmicas. Para nos aquecermos levamos dois fleeces, uma jaqueta e um corta vento impermeável.


Hora do almoço no segundo dia da Travessia da Serra do Tabuleiro

Comida: Para o primeiro dia levamos sanduíche para o almoço e sopa para a janta. Levamos também miojo, arroz, linguiça blumenau e carnes liofilizadas da Vapza. Para os lanches levamos frutas frescas e secas, barrinhas, doce de leite e bolachas.



Barraca: levamos uma barraca Astek para duas pessoas, muito leve e resistente.

Barraca virada para o nascer do sol

Peso das mochilas na Travessia da Serra do Tabuleiro.

Mochilas: Fomos com uma mochila de 35 litros e outra de 50 litros, elas saíram de casa muito cheias e com 14 e 20 kg, respectivamente.


Sacos de dormir: usamos sacos de dormir de -5ºC, mas mesmo dormindo com roupas quentes sentimos um pouco de frio.


Primeiros socorros: além dos primeiros socorros que rotineiramente levamos em nossas aventuras, levamos ainda hipoglós, caso a caminhada provocasse assaduras e remédios para dor de cabeça e dor muscular.


Celulares: Levamos três celulares, um velhinho foi gravando o trajeto no Wikiloc, um foi tirando fotos nos dois primeiros dias e o outro no último dia. Deixamos eles em modo avião e ligamos somente nos acampamentos onde tínhamos sinal.


Shit tube: para não contaminar o berço das águas da grande Florianópolis, utilizamos o shit tube, um tubo plástico equipado com jornal, saco plástico biodegradável e cal virgem. Fazer cocô nesta situação não é algo muito fácil, mas tudo pelo meio ambiente.


Dia 1


Deixamos nosso carro na Apuama, uma empresa de rafting localizada em Santo Amaro da Imperatriz, aos pés do Morro do Tabuleiro e nos deslocamos de van até o início da trilha em São Bonifácio, na propriedade do Seu Gilson e Dona Inês. Durante cerca de 3 quilômetros passamos por trechos de floresta e cruzamos o Rio Moller dezessete vezes. Foram poucos que conseguiram a proeza de não molhar os pés, então para evitar quedas talvez o melhor seja já ir por dentro d’água.

Ao final do trecho de floresta passamos por algumas áreas gramadas, antigas áreas de pastagem, onde existem caixas de abelhas. São locais maravilhosos para descanso, lanche e refresco no riacho, mas cuidado para não fazer muito barulho para evitar ataque das abelhas. Num desses riachos encontramos uma pegada, que acreditamos ser de sussuarana.


Almoço com vista para a Serra Geral, no primeiro dia da Travessia da Serra do Tabuleiro

Fizemos um almoço rápido em uma pedra com vista para a imponência da Serra Geral e daí em diante acessamos os campos de altitude. A vegetação muda gradualmente, com a predominância de gramíneas e plantas mais baixas. Uma paisagem diferente e encantadora.



No meio da tarde chegamos à Pedra do Cabelo, a cabeluda. Uma pedra alta com algumas gramíneas em seu topo que dão à mesma uma configuração diferente e inusitada, localizada num cume a 1260 metros de altitude.

Pedra do Cabelo - a cabeluda, no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Chegar neste ponto é um daqueles momentos “Uou!!!”, pois descortina-se a vista da grande Florianópolis, realmente uma paisagem impressionante pela dimensão e pela beleza. Para nós, viajar no tempo e imaginar como era tudo isso antes de 1500 é sempre um convite à viagem no tempo, onde não havia prédios e a natureza ditava o ritmo da vida.

Visual da Grande Florianópolis a partir da Serra do Tabuleiro

Mais alguns metros e cruzamos o Rio dos Porcos onde alguns se encorajaram ao banho, mesmo com um frio de rachar. Nós somente coletamos água e encaramos a última subida para a área do primeiro acampamento. É uma região de muito charco, então achar um local para montar a barraca é um verdadeiro desafio. Escolhemos um local um pouco mais seco ou melhor, menos úmido, próximo a uma pequena laje de pedra. Isso nos ajudou na logística de montagem e desmontagem e nos permitiu permanecer em um local seco quando precisamos. Enquanto montamos acampamento, o Sargon e sua equipe montaram com uma lona uma cozinha, com uma das melhores vistas da região. Preparamos uma sopa de frango com legumes, tomamos um genmai chá e partimos para o berço. Foi uma noite nublada, então não conseguimos curtir as estrelas.

Cozinha montada na primeira noite de acampamento

Dia 2


Acordamos com o som dos nossos amigos montanhistas admirando as cores do alvorecer que passavam de violeta para laranja. Tomamos café acompanhando o espetáculo do nascer do sol por trás da Ilha da Magia e dando um brilho para o pico do Cambirela que estava bem à nossa frente. Desmontamos acampamento e partimos para mais nove quilômetros de caminhada. 

Desta vez começamos descendo até um vale e seguimos boa parte do caminho apreciando a paisagem montanhesca e a flora dos campos de altitude. Próximo ao meio dia paramos em um rio para fazermos almoço e aproveitamos para nos banhar nas águas cristalinas e geladas do alto da serra. No cardápio macarrão com linguiça blumenau, frutas e café.

Seguimos a jornada costeando o rio até encontrarmos uma belíssima cachoeira e depois uma rocha em formato de sarcófago e com manchas pretas que a dão um ar de guardião da montanha. Passamos por uma das nascentes do Ribeirão Vermelho e enchemos todas as garrafas, porque a próxima fonte só seria alcançada ao final da próxima manhã. Daí em diante foi uma subida até o Pico do Portal. Próximo ao cume, duas grandes pedras que dão nome ao local, recepcionam os montanhistas que se aventuram até aquela altitude, passamos por ela reverenciando-as e seguimos até o acampamento, a aproximadamente 1170 metros de altitude e com uma vista privilegiada do Pico do Tabuleiro, da Cachoeira do Rio Vermelho e da Ilha de Santa Catarina.

Montamos a barraca e ficamos curtindo o pôr do sol. Estava muito frio, principalmente por conta do vento que soprava forte. Conseguimos aproveitar as estrelas que davam um show e que se mostram muito mais em locais distantes da iluminação das cidades. Eram incontáveis.

Não dormimos muito bem por conta do vento chacoalhando a barraca e ainda que estivéssemos vestidos com roupas térmicas e com sacos de dormir para -5ºC, ainda sentíamos um pouco de frio nas pernas. O vento era tão intenso que chegou a derrubar a nossa cozinha.


Dia 3

Apreciando o nascer do sol de dentro da barraca


Explicação do que é reversinha

Acordamos para novamente aproveitar o alvorecer. Ventava muito. Com esse clima o condutor decidiu alterar os planos: a saída foi adiada em uma hora porque não conseguiríamos aproveitar muito no cume do Tabuleiro com este vento. Assim nos dirigimos para uma "reversinha" matinha nebular onde abrigados do vento conseguimos fazer nosso café da manhã.


Seguimos pela crista rumo ao pico do Gravatá, que fica ao lado do Tabuleiro, é um pequeno cume cheio de gravatás e daí descemos por um vale muito íngreme cheio de raízes, um trecho bastante complicado, até chegar na nascente do Rio das Águas Claras onde conseguimos nos reabastecer de água e almoçarmos. Nós decidimos só fazer um lanche porque não tínhamos fome, o que vimos depois que foi um erro, porque nos sentimos fracos no final da jornada.

Após essa pausa subimos até o pico do Tabuleiro, apesar da subida íngreme, foi uma jornada rápida. No cume, a sensação de vitória e realização foi imensa. Assinamos o livro do cume e fomos nos esconder e descansar numa matinha porque o vento era muito intenso e frio. Em poucos minutos as nuvens cobriram o local e não tínhamos mais a vista panorâmica do local. Vimos restos de fogueira e árvores cortadas, o que nos deixou tristes e preocupados com a possibilidade daquele paraíso um dia ser tomado por chamas provocadas por inconsequentes.

Como a vista estava fechada e o vento cortante ficamos pouco tempo no cume, iniciamos a longa descida de seis quilômetros.

Grupo descansando em meio a descida do Morro do Tabuleiro

A trilha até a Apuama é bastante fechada, mas esse é o único inconveniente, porque ela não tem muitos obstáculos. Ficamos bastante cansados na descida, o que tornou a chegada ainda mais gratificante. 


Agradecemos aos nossos companheiros de jornada e principalmente ao nosso condutor Sargon Scheidt e fomos para casa logo porque a saudade dos pequenos (e do chuveiro quente, da cama, do sofá, do fogão…)  era enorme.

Grupo assim que chegou aos campos de altitude na travessia da Serra do Tabuleiro

Travessia da Serra do Tabuleiro - Nossa opinião

É uma aventura incrível e que nos permitiu uma imersão no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Ficou ainda mais evidente para nós a importância da preservação de toda aquela área para a garantia do abastecimento de água de toda a região. Nos preocupou ver que existem alguns pinus grandes e vários pequenos por todo o trajeto, achamos premente que haja uma iniciativa governamental para controlá-los.

Condutor Sargon Scheidt explicando a geografia da região

Para fazer esta travessia é fundamental ter um profissional conduzindo. São diversos caminhos que podem confundir, trechos de áreas alagadas escondidos entre os campos, as turfeiras, necessidade da escolha de um local adequado para o acampamento, conhecimento das condições do clima específicas para este local.


Viver momentos imersos na natureza nos deu novas energias e nos fortaleceu como casal. Também nos deu motivos para valorizar pequenas coisas como nossa cama, nosso sofá, nosso fogão. Enfim, já estamos pensando nas próximas aventuras.

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