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Foto do escritorFamília na Trilha

Ervas medicinais nas trilhas de São José

Na nossa jornada de guiamentos e educação ambiental, sempre buscamos aliar conhecimentos e sensações que geram memórias afetivas durante as trilhas. Momentos como o cheiro da erva-baleeira, que remete ao tempero caseiro, ou a descoberta de algo novo, como uma fruta nativa, são experiências que conectam profundamente os turistas à natureza. Nessas ocasiões, a sensação de bem-estar ocorre de forma quase automática, promovendo uma melhora na saúde física e mental.

Ainda assim, sentíamos a necessidade de aprofundar nosso conhecimento e promover mais do que sensações. Precisávamos preservar e valorizar o conhecimento ancestral, principalmente aquele oriundo dos povos originários de Santa Catarina. Foi essa inquietação que nos levou a estudar etnobotânica, a ciência que explora a conexão entre as culturas e as plantas dos locais. Esse campo nos revelou um universo de saberes tradicionais sobre o uso das plantas, seja na alimentação, como medicamentos ou até mesmo em práticas religiosas.

Infelizmente, muitos desses conhecimentos estão se perdendo com as gerações. A globalização e o crescimento das indústrias alimentícias e farmacêuticas facilitaram o acesso a alimentos processados e remédios industrializados. Isso reduziu o interesse por recursos naturais, como alimentos nativos e plantas medicinais. Compra-se Acheflan, mas não se usa erva-baleeira; compra-se kiwi, mas não se come araçá. Essa desconexão nos motivou a agir.

Quando foi lançado o edital da Lei Paulo Gustavo em São José, percebemos uma grande oportunidade de apresentar um projeto que pudesse contribuir para a preservação do patrimônio imaterial relacionado ao uso das ervas medicinais. Para fortalecer o projeto, convidamos o farmacêutico Rodrigo Hoff, colega de trabalho do André.

Além de pesquisador e inventor na área laboratorial, Rodrigo tem um vasto conhecimento sobre plantas medicinais. Ele trouxe uma perspectiva científica que complementou perfeitamente nosso olhar prático e histórico.

Nossa ideia inicial era combinar nosso conhecimento das trilhas e explorar quais plantas medicinais poderíamos encontrar nelas. Escolhemos duas trilhas emblemáticas de São José: a Trilha da Pedra Branca e a Trilha do Parque dos Sabiás. Já havíamos falado sobre essas trilhas em outros posts aqui no blog, destacando sua importância ambiental e cultural.

Após sermos contemplados com o prêmio, demos início à execução do projeto com grande entusiasmo. Realizamos visitas às trilhas selecionadas, onde catalogamos e fotografamos as espécies indicadas pelo Rodrigo. Cada planta era uma nova descoberta, revelando histórias e usos surpreendentes que ampliaram nossa admiração pelo conhecimento ancestral.

Em seguida, organizamos e realizamos duas oficinas, uma em cada trilha, com o objetivo de compartilhar o que havíamos aprendido. Essas oficinas foram momentos de troca genuína de saberes. Aprendemos muito com os participantes, que trouxeram suas próprias vivências e conhecimentos. Foi gratificante perceber o interesse e a curiosidade das crianças que participaram. Elas faziam perguntas detalhadas sobre as plantas e demonstraram uma conexão natural com o tema. Outro ponto alto foi o apoio essencial da coordenação do Parque dos Sabiás, que gentilmente cedeu o espaço em um final de semana, viabilizando a realização da oficina.

Oficina no Parque dos Sabiás


Oficina na Pedra Branca

A última etapa do projeto foi a escrita do livro. Para nós, que nunca havíamos escrito um livro, essa foi uma tarefa desafiadora. Contamos com o apoio inestimável do Rodrigo, que trouxe sua experiência em trabalhos científicos. Ele conseguiu mesclar, de maneira magistral, o conhecimento tradicional com o científico, resultando em um conteúdo acessível tanto para o público em geral quanto para profissionais da saúde. Gostaríamos de expressar nossa gratidão especial à professora Jaqueline Durigon, que revisou o livro com dedicação e atenção aos detalhes. Seu trabalho foi fundamental para garantir a qualidade do conteúdo e tornar o material ainda mais valioso para os leitores. O livro “Ervas medicinais das trilhas de São José” é o resultado dessa soma de esforços e aprendizados.

Este projeto foi uma oportunidade única de preservar o conhecimento ancestral sobre as ervas medicinais e de fomentar a valorização do patrimônio cultural e natural de São José. Nossa experiência mostrou que a união entre ciência e tradição pode gerar resultados significativos para a educação e a conscientização ambiental. Também nos revelou o poder transformador das atividades práticas em meio à natureza, que despertam a curiosidade e o senso de pertencimento, especialmente entre as crianças.

Nosso desejo é que esse trabalho inspire outras iniciativas semelhantes, não apenas em São José, mas também em outros municípios e ecossistemas da Mata Atlântica. Imaginamos um futuro em que possamos incluir plantas alimentícias não convencionais em novos projetos, ampliando ainda mais o alcance do conhecimento sobre o uso sustentável dos recursos naturais.

Esperamos que você aprecie o conteúdo do nosso livro e que ele seja útil para você e sua família. Que as histórias dessas plantas possam inspirar uma reconexão com a natureza e com os saberes que nos foram transmitidos ao longo das gerações.



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